sexta, 31/10/2025, às 08:10

E se o tema da redação do ENEM for “falta de ética no uso da IA”, você saberá o que produzir?

A Inteligência Artificial (IA) é, sem dúvidas, o assunto do momento. Presente em quase todos os setores da nossa vida, desde a busca por informação até a sugestão de filmes, o seu avanço vertiginoso traz consigo um dilema muito relevante: a falta de ética em seu uso. Logo, se o ENEM propuser um aprofundamento nesse tema, você saberá o que produzir?

Possíveis eixos da discussão

Um tema dessa magnitude no ENEM exigiria do candidato a capacidade de conectar o avanço tecnológico com as questões sociais, éticas e legais. Nesse sentido, três pontos principais merecem destaque e funcionam como ótimos eixos argumentativos:

O viés algorítmico e a reprodução de preconceitos

  • O problema: sistemas de IA são treinados com dados gerados por humanos. Se esses dados refletem preconceitos (racismo, machismo, desigualdade social), o algoritmo não só os reproduz, como os intensifica e os automatiza.

  • Exemplo para a redação: algoritmos de recrutamento que discriminam candidatos por gênero ou etnia; sistemas de reconhecimento facial com maior taxa de erro para pessoas negras.

  • Consequência: a IA, ao invés de ser uma ferramenta de equidade, torna-se um agente de perpetuação de desigualdades históricas.

Deepfakes, desinformação e a crise da confiança

  • O problema: a IA generativa permite a criação de conteúdos extremamente realistas – textos, áudios e vídeos (os famosos deepfakes) – que são praticamente indistinguíveis da realidade. Isso abre portas para a manipulação e a desinformação em massa.

  • Contexto no Brasil: campanhas políticas, fraudes financeiras e a criação de imagens íntimas falsas sem consentimento (uma grave violência de gênero) são exemplos de uso antiético que já circulam na sociedade.

  • Consequência: erosão da confiança nas instituições, manipulação da opinião pública e graves danos à honra e à privacidade dos indivíduos.

A inércia legislativa e a necessidade de governança

  • O problema: o desenvolvimento da IA avança em velocidade de "luz", enquanto a legislação para regulamentá-la caminha a passos lentos. A falta de normas claras deixa a sociedade desprotegida.

  • O debate brasileiro: o Brasil tem discutido um Marco Legal da Inteligência Artificial (Projeto de Lei em análise no Congresso), buscando classificar os sistemas por nível de risco (baixo, médio e alto) e estabelecer princípios como transparência e supervisão humana.

  • Consequência: sem regulamentação, empresas e desenvolvedores operam sem responsabilidade clara, dificultando a punição por danos e o direito à reparação para as vítimas de abusos tecnológicos.

Repertório sociocultural: para brilhar na prova

Para argumentar com excelência, o candidato precisa ir além do senso comum. Que tal usar algumas referências importantes?

  • Citação filosófica: a famosa frase de Albert Einstein: "Tornou-se assustadoramente claro que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade". Perfeita para introduzir o dilema ético.

  • Constituição Federal de 1988: mencionar o direito à privacidade e à dignidade da pessoa humana (Artigo 1º) como direitos violados pela coleta excessiva de dados e pelo uso malicioso da IA.

  • Conceito de Vigilância (Zygmunt Bauman): relacionar o uso da IA com a intensificação da "sociedade da vigilância", onde cada passo digital é monitorado, transformando dados em poder e, muitas vezes, em lucro.

Proposta de Intervenção: solução cidadã

Lembre-se: o ENEM exige uma solução detalhada e com o máximo de elementos. Vamos conhecer alguns exemplos? 

  • 1) Agente (quem fará?) - Detalhamento: Governo Federal (por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Congresso Nacional; 

  • 2) Ação (o que fazer?) - Detalhamento: Acelerar a aprovação e fiscalização do Marco Legal da IA, garantindo a responsabilização clara das empresas e punição para o uso antiético (como a criação de deepfakes maliciosos). 

  • 3) Modo/meio (como?) - Detalhamento: por meio da criação de um Comitê de Ética em IA, multidisciplinar e independente, com poder de auditar e exigir a transparência dos algoritmos de alto risco 

  • 4) Finalidade; Detalhamento: para mitigar os vieses algorítmicos e garantir que a IA seja uma ferramenta de desenvolvimento social e não de reprodução de desigualdades. 

Em suma, a falta de ética no uso da Inteligência Artificial é um tema que nos convida a sermos não apenas consumidores de tecnologia, mas cidadãos digitais conscientes. No papel de futuros universitários, cabe aos estudantes do ENEM dominar a tecnologia, mas, acima de tudo, dominarem a ética por trás dela.



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