A Inteligência Artificial (IA) é, sem dúvidas, o assunto do momento. Presente em quase todos os setores da nossa vida, desde a busca por informação até a sugestão de filmes, o seu avanço vertiginoso traz consigo um dilema muito relevante: a falta de ética em seu uso. Logo, se o ENEM propuser um aprofundamento nesse tema, você saberá o que produzir?

Possíveis eixos da discussão
Um tema dessa magnitude no ENEM exigiria do candidato a capacidade de conectar o avanço tecnológico com as questões sociais, éticas e legais. Nesse sentido, três pontos principais merecem destaque e funcionam como ótimos eixos argumentativos:
O viés algorítmico e a reprodução de preconceitos
- O problema: sistemas de IA são treinados com dados gerados por humanos. Se esses dados refletem preconceitos (racismo, machismo, desigualdade social), o algoritmo não só os reproduz, como os intensifica e os automatiza. 
- Exemplo para a redação: algoritmos de recrutamento que discriminam candidatos por gênero ou etnia; sistemas de reconhecimento facial com maior taxa de erro para pessoas negras. 
- Consequência: a IA, ao invés de ser uma ferramenta de equidade, torna-se um agente de perpetuação de desigualdades históricas. 
Deepfakes, desinformação e a crise da confiança
- O problema: a IA generativa permite a criação de conteúdos extremamente realistas – textos, áudios e vídeos (os famosos deepfakes) – que são praticamente indistinguíveis da realidade. Isso abre portas para a manipulação e a desinformação em massa. 
- Contexto no Brasil: campanhas políticas, fraudes financeiras e a criação de imagens íntimas falsas sem consentimento (uma grave violência de gênero) são exemplos de uso antiético que já circulam na sociedade. 
- Consequência: erosão da confiança nas instituições, manipulação da opinião pública e graves danos à honra e à privacidade dos indivíduos. 

A inércia legislativa e a necessidade de governança
- O problema: o desenvolvimento da IA avança em velocidade de "luz", enquanto a legislação para regulamentá-la caminha a passos lentos. A falta de normas claras deixa a sociedade desprotegida. 
- O debate brasileiro: o Brasil tem discutido um Marco Legal da Inteligência Artificial (Projeto de Lei em análise no Congresso), buscando classificar os sistemas por nível de risco (baixo, médio e alto) e estabelecer princípios como transparência e supervisão humana. 
- Consequência: sem regulamentação, empresas e desenvolvedores operam sem responsabilidade clara, dificultando a punição por danos e o direito à reparação para as vítimas de abusos tecnológicos. 

Repertório sociocultural: para brilhar na prova
Para argumentar com excelência, o candidato precisa ir além do senso comum. Que tal usar algumas referências importantes?
- Citação filosófica: a famosa frase de Albert Einstein: "Tornou-se assustadoramente claro que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade". Perfeita para introduzir o dilema ético. 
- Constituição Federal de 1988: mencionar o direito à privacidade e à dignidade da pessoa humana (Artigo 1º) como direitos violados pela coleta excessiva de dados e pelo uso malicioso da IA. 
- Conceito de Vigilância (Zygmunt Bauman): relacionar o uso da IA com a intensificação da "sociedade da vigilância", onde cada passo digital é monitorado, transformando dados em poder e, muitas vezes, em lucro. 
Proposta de Intervenção: solução cidadã
Lembre-se: o ENEM exige uma solução detalhada e com o máximo de elementos. Vamos conhecer alguns exemplos?
- 1) Agente (quem fará?) - Detalhamento: Governo Federal (por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Congresso Nacional; 
- 2) Ação (o que fazer?) - Detalhamento: Acelerar a aprovação e fiscalização do Marco Legal da IA, garantindo a responsabilização clara das empresas e punição para o uso antiético (como a criação de deepfakes maliciosos). 
- 3) Modo/meio (como?) - Detalhamento: por meio da criação de um Comitê de Ética em IA, multidisciplinar e independente, com poder de auditar e exigir a transparência dos algoritmos de alto risco 
- 4) Finalidade; Detalhamento: para mitigar os vieses algorítmicos e garantir que a IA seja uma ferramenta de desenvolvimento social e não de reprodução de desigualdades. 

Em suma, a falta de ética no uso da Inteligência Artificial é um tema que nos convida a sermos não apenas consumidores de tecnologia, mas cidadãos digitais conscientes. No papel de futuros universitários, cabe aos estudantes do ENEM dominar a tecnologia, mas, acima de tudo, dominarem a ética por trás dela.


 
                                                 
                                                 
                                                 
             
            